sexta-feira, 20 de abril de 2018

Conversa com Mark Lawrence e Renato Carreira - Parte 2

Hoje vamos estrear uma nova área do blog, que é a parte de entrevistas com autores, tradutores e editores. Tive a oportunidade de falar com a Topseller, que me permitiu entrar em contacto com Renato Carreira, tradutor de livros como o a Trilogia dos Espinhos, do Mark Lawrence, e com o próprio Mark Lawrence. Vamos ter a entrevista dividida em duas partes. A primeira com o autor e a segunda com o tradutor.


PP: O Renato começou a sua carreira como jornalista, e até já publicou alguns livros, como é que surgiu a opção de tradução?
RC: Apesar de ter tido formação em jornalismo, nunca trabalhei realmente como jornalista. A tradução surgiu numa altura em que andava um pouco desorientado em termos profissionais, como junção de duas coisas de que sempre gostei muito: línguas e construir histórias. Mesmo que, na tradução, não seja realmente construção e sim reconstrução. É suficientemente próximo.

PP: Quando não está em contexto laboral, qual é o género de livros que o atrai mais? Costuma ler mais autores nacionais ou estrangeiros?
RC: Costumo ler mais autores estrangeiros. Talvez porque a oferta é mais numerosa e mesmo que também existam alguns autores nacionais de que gosto muito. Não tenho um género que me atraia mais. É um clichê, mas gosto de ler "um pouco de tudo". 

PP: Conhecia o livro "Principe dos Espinhos" antes de ter feito a tradução?
RC:Não conhecia.

PP: A personagem de Jorg no primeiro livro, principalmente, faz escolhas moralmente questionáveis, e alguns leitores queixaram-se de que ver o mundo por o ponto de vista de alguém tão sádico como Jorg, foi algo perturbador. Tendo a responsabilidade de traduzir os actos de Jorg para português, sentiu-se afectado de alguma forma pela personagem?
RC: Não. E o Jorg nem é assim tão mau. Já traduzi livros em que tive de ver o mundo pelos olhos de pessoas muito piores. Assassinos em série, pedófilos. A ligeira tendência do Jorg para o genocídio torna-se "simpática" por comparação. E acho que a narrativa fica mais rica quando há personagens que não são apresentadas ao leitor como sendo "boas" ou "más", permitindo a liberdade para decidirmos por nós o que achamos que são.

PP: Os livros do Mark são característicos por terem várias passagens citáveis na versão original, que acabam por perder parte do significado quando são traduzidas. Houve alguma passagem que lhe tenha dado problemas? 
RC: Quando o texto original está escrito de modo competente por um autor talentoso (como é o caso), é relativamente fluido passá-lo para português. Exige sempre a capacidade de moldarmos a narrativa para que fique o mais fiel possível à intenção do autor e de tomar decisões nos casos em que não exista uma correspondência direta de termos ou expressões, mas esse desafio é a essência do trabalho de tradutor. A dificuldade real, para mim, está na tradução de textos em que o tal talento esteja menos presente.

PP: A TopSeller comprou os direitos para a trilogia seguinte do Mark Lawrence naquele universo, o Renato será o tradutor para essa nova trilogia? 
RC: Acho que posso dizer que sim. Estou a trabalhar nela agora mesmo.
PP: Por fim, qual foi o livro que traduziu que mais lhe deu prazer? 
RC: Já passei a centena de livros traduzidos e torna-se um pouco difícil responder, até porque acho que esqueci alguns. Mas lembro-me de ter sentido especial prazer nas poucas traduções que fiz de autores que já lia antes (como Terry Pratchett ou Douglas Adams). Na fantasia, descobri durante a tradução os livros do Joe Abercrombie, que recomendo sem esforço a qualquer pessoa que aprecie o género.


PP: Obrigado Renato pelo tempo e pelo trabalho que faz com as suas traduções. Acabo sempre por ler a versão original e a versão traduzida, e é sempre bom ver que as ambas são equiparáveis!

Por fim, obrigado à Topseller por permitir este contacto!
Aos nossos leitores, espero que tenham gostado desta nova área.

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