terça-feira, 20 de março de 2018

Lança do Deserto



Titulo original: The Desert Spear
Autor: Peter V. Brett
Editora: Edições Asa/ Gailivro
Sinopse: O Sol põe-se sobre a Humanidade. A noite pertence agora a demónios vorazes que se materializam com a escuridão e que caçam, sem tréguas, uma população quase extinta, forçada a acobardar-se atrás da segurança de guardas de poder semi-esquecidas. Mas estas guardas apenas servem para manter os demónios à distância e as lendas falam de um Libertador; um general, alguns chamar-lhe-iam profeta, que em tempos uniu a Humanidade e derrotou os demónios. No entanto esses tempos, se alguma vez existiram, pertencem a um passado distante. Os demónios estão de volta e o Libertador é apenas um mito… Ou será que não?

Critica: O primeiro livro de Peter V. Brett (Homem Pintado) apresenta-nos o ponto de vista de três personagens diferentes, na sua luta contra a praga que assola a humanidade, os demónios que surgem durante a noite e desaparecem com a luz do Sol. O mundo criado pelo autor não é fácil, fazendo com que pessoas se tornem ainda mais frias e em que a compaixão é algo raro. Nesta sequela Peter V. Brett mostra que existe locais em que a vida consegue ser ainda mais difícil e dá-nos um novo ponto de vista de uma personagem que aprendemos a detestar no primeiro livro, Ahmann Jardir.
Ahmann Jardir é-nos apresentado como uma pessoa, sem escrúpulos, que no momento em que pode deitar mão a uma arma que lhe permite ascender ao topo da sua sociedade, não pensa duas vezes e trai o seu amigo para o conseguir. No entanto, na Lança do Deserto, o autor mostra-nos um lado mais humano desta personagem, pegando na sua história desde muito novo até a sua vida adulta.

Krasia, o local de nascimento de Jardir, é um local duro, em que a sociedade oprime mulheres e comerciantes, dando primazia à sua classe guerreira e homens de fé. Numa tentativa, muito bem conseguida, de comparação com uma sociedade muçulmana, vemos como Jardir é vítima das suas circunstancias, e que o homem que conhecemos em Homem Pintado é apenas uma face de alguém com muito mais profundidade.

Peter V. Brett abordou no primeiro livro o tema da violação, e aqui volta a abordar, nesta vez um acto de pedofilia. Mais uma vez, a vítima consegue ultrapassar este trauma e torna-se mais forte, apesar disso. Este tipo de escrita em que se aborda questões complexas tais como violação, diferenças sociais e religiosas é algo que caracteriza esta coleção, e é sempre feita de forma a não ferir suscetibilidades. 

Os personagens originais continuam presentes, em várias contextos que permite mostrar um Arlen, pós-transformação, mais humano e que se esforça para se reintegrar na sociedade. As interações de Arlen com Rojer são deliciosas e demonstram como a alegria do Jogral consegue ser contagiante.

Somos mais uma vez postos frente-a-frente com o ego humano, principalmente naqueles que têm poder. Mesmo ameaçados por forças externas, com capacidade de destruírem toda a população, os chefes da sociedade continuam mais interessados em manter o status quo, e ganhar influência sobre os outros líderes, com muito pouca consideração sobre a população sob a sua responsabilidade.


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