quinta-feira, 29 de março de 2018

Kings of the Wyld


Titulo: Kings of the Wyld
Autor: Nicholas Eames
Editora: Sem acordo em Portugal
Sinopse:Clay Cooper e o seu bando foram os melhores dos melhores... O mais temível, terrível e assustador grupo de mercenários deste lado da Heartwyld.

Os seus dias de glória há muito que passaram, os mercenários afastarm-se e ficaram velhos, gordos e bêbados...ou uma combinação dos três. E eis que um dos seus companheiros surge à porta de Clay com um pedido de ajuda. A sua filha Rose está presa numa cidade rodeada dum exército inimigo de cem mil, sedentos de sangue. Resgatar Rose é o tipo de missão que apenas o mais corajoso ou o mais estúpido se iria aventurar.
É altura de juntar o bando para uma última viagem à Wyld.


Crítica: Este foi um dos meus livros preferidos nos últimos tempos. A forma como o primeiro capítulo se desenvolve é muito parecida com o restante género em que um guerreiro fica a divagar acerca da vida, guerra e confrontos violentes e nos mostra que está cansado de tudo isto, mas a partir do momento em que o seu melhor amigo surge com um pedido de ajuda tudo muda de figura. Mas o habitual fica por aqui, porque a partir do momento em que estes dois se encontram nada daquilo que ocorre é típico ou habitual num livro de fantasia.

Neste mundo os bandos de mercenários são famosos, aliás são admirados pela grande maioria da população, fazendo com que o grupo de Clay, Saga, seja conhecido por todos. Saga é considerado o melhor grupo que alguma vez existiu, que derrotou inúmeros inimigos e que ainda hoje é considerado o pináculo daquilo que um grupo mercenário deve almejar ser. Existe um claro paralelismo entre a reverência destes bandos de mercenários com as bandas de rock no nosso mundo, desde as groupies até ao comentário que hoje em dia já não se fazem bandas como antigamente.

A acção é rápida e cheia de desafios, os inimigos são múltiplos e na grande maioria das vezes mulheres. É um livro hilariante em que os inimigos assumem muitas das vezes contornos cómicos, assim como os nossos heróis. Uma das partes que considerei mais hilariante é quando o grupo para fugir de um inimigo atira um pó que trata disfunção eréctil, fazendo com que o confronto seja algo cómico e nunca visto no género.

Apesar do seu elemento cómico, o livro é no seu todo um épico carregada de acção e intriga, directo e com um balanço muito bom, tornando-o um livro excelente.

Recomendo a todos os que gostam de livros de fantasia, pois é algo refrescante no género.

quarta-feira, 28 de março de 2018

Nome do Vento

Titulo original: Name of the Wind
Autor: Patrick Rothfuss
Editora: Gailivro / 1001 Mundos (2009)

Sinopse:Da infância como membro de uma família unida de nómadas Edema Ruh até à provação dos primeiros dias como aluno de magia numa universidade prestigiada, o humilde estalajadeiro Kvothe relata a história de como um rapaz desfavorecido pelo destino se torna um herói, um bardo, um mago e uma lenda. O primeiro romance de Rothfuss lança uma trilogia relatando não apenas a história da Humanidade, mas também a história de um mundo ameaçado por um mal cuja existência nega de forma desesperada. O autor explora o desenvolvimento de uma personalidade enquanto examina a relação entre a lenda e a sua verdade, a verdade que reside no coração das histórias. Contada de forma elegante e enriquecida com vislumbres de histórias futuras, esta "autobiografia" de um herói rica em detalhes é altamente recomendada para bibliotecas de qualquer tamanho.

Crítica: Existem livros que são fáceis de se gostar de ler, seja porque foram bem escritos, porque têm uma boa acção ou até porque conseguimos rever-nos nas personagens. Neste caso, o Nome do Vento é uma combinação destes 3 factores. Acho que é fácil de ler, ao mesmo tempo que nos deixa imersos no seu mundo. A história é contada de forma autobiográfica, por alguém que é famoso por contar histórias e cantar aventuras.

Kvothe é o personagem principal, apesar de nos ser introduzido como Kothe, um estalajadeiro. A vida desta personagem é a história principal, que terminará com a morte de um rei (Kingkiller chronicles). A forma como o autor constrói as personagens é rica em detalhes, os heróis são fáceis de se gostar e os vilões são fáceis de odiar. Não quero dizer com isto que as personagens não são bem descritas, muito pelo contrário, são cheios de personalidade e com características específicas para cada um.

O universo desta triologia é-nos dado a conhecer de forma simples, o que é considerado uma vantagem, visto que na grande maioria das obras de fantasia, somos atirados para um mundo em que existem poucas explicações acerca de como funcionam a magia, o poder político e o próprio universo. Neste caso, o autor deixa-nos confortável em que apreendemos, facilmente, o que se passa em volta do personagem e como cada sistema de magia funciona, como está o poder dividido, etc..

Muito francamente acho que pode ser comparado à saga de Harry Potter, mas de uma forma mais adulta. O personagem principal perde os pais num ataque que é feito porque o vilão se sente ameaçado, após a morte dos pais, o personagem vive em pobreza e só através de um chamamento para uma escola de magia, é que ele consegue ser retirado de uma situação horrível e aprender a viver para todo o seu potencial. Os vilões são divididos em duas categorias, os do dia-a-dia, neste caso na escola e os do grande plano da história, ou seja quem matou os pais do personagem principal, que ficam como papel de fundo na grande maioria do livro.

 Aquilo que me fez adorar o livro é o facto de que está mesmo muito bem escrito. A acção está no ritmo certo, o enredo é cheio de reviravoltas, as histórias de amor são épicas e o sistema de magia é envolvente e fácil de se perceber. Gostei muito da presença de música neste livro, e aquilo que ela representa na vida de Kvothe e gosto da forma como ele é um herói, sem dúvidas nem perde o rumo face ao seu objectivo final. O dinheiro assume uma importância gigantesca neste história, em que estamos sempre conscientes quanto dinheiro está com o personagem principal, sempre. Acho que é mais facil saber quanto dinheiro Kvothe tem do que quanto dinheiro temos nós na nossa carteira neste preciso momento.

Mas existem coisas que fazem com que este livro não me encante. Não existe ambivalência nas personagens, isto é, os personagens são bons ou maus, não existe, propriamente, meio-termo, o que demonstra o quão irreais estas personagens são. Não existe conflitos morais na personagem porque se ele é parte dos heróis, vai sempre fazer a coisa certa, mesmo quando significa sacrificar-se e o vilão vai sempre fazer a coisa errada para poder obter poder ou por outro motivo egoísta. Isto pode dever-se ao facto de quem está a contar a história ser a personagem principal e, como tal, tentar mostrar que ele e os amigos são moralmente irrepreensíveis.

Recomendo este livro a quem esteja em busca de um épico para ler, algo que depois de se ler te deixa sentir bem. Acho que é um livro muito bom e muito bem escrito e que a grande maioria das pessoas irá adorar.




terça-feira, 20 de março de 2018

Lança do Deserto



Titulo original: The Desert Spear
Autor: Peter V. Brett
Editora: Edições Asa/ Gailivro
Sinopse: O Sol põe-se sobre a Humanidade. A noite pertence agora a demónios vorazes que se materializam com a escuridão e que caçam, sem tréguas, uma população quase extinta, forçada a acobardar-se atrás da segurança de guardas de poder semi-esquecidas. Mas estas guardas apenas servem para manter os demónios à distância e as lendas falam de um Libertador; um general, alguns chamar-lhe-iam profeta, que em tempos uniu a Humanidade e derrotou os demónios. No entanto esses tempos, se alguma vez existiram, pertencem a um passado distante. Os demónios estão de volta e o Libertador é apenas um mito… Ou será que não?

Critica: O primeiro livro de Peter V. Brett (Homem Pintado) apresenta-nos o ponto de vista de três personagens diferentes, na sua luta contra a praga que assola a humanidade, os demónios que surgem durante a noite e desaparecem com a luz do Sol. O mundo criado pelo autor não é fácil, fazendo com que pessoas se tornem ainda mais frias e em que a compaixão é algo raro. Nesta sequela Peter V. Brett mostra que existe locais em que a vida consegue ser ainda mais difícil e dá-nos um novo ponto de vista de uma personagem que aprendemos a detestar no primeiro livro, Ahmann Jardir.
Ahmann Jardir é-nos apresentado como uma pessoa, sem escrúpulos, que no momento em que pode deitar mão a uma arma que lhe permite ascender ao topo da sua sociedade, não pensa duas vezes e trai o seu amigo para o conseguir. No entanto, na Lança do Deserto, o autor mostra-nos um lado mais humano desta personagem, pegando na sua história desde muito novo até a sua vida adulta.

Krasia, o local de nascimento de Jardir, é um local duro, em que a sociedade oprime mulheres e comerciantes, dando primazia à sua classe guerreira e homens de fé. Numa tentativa, muito bem conseguida, de comparação com uma sociedade muçulmana, vemos como Jardir é vítima das suas circunstancias, e que o homem que conhecemos em Homem Pintado é apenas uma face de alguém com muito mais profundidade.

Peter V. Brett abordou no primeiro livro o tema da violação, e aqui volta a abordar, nesta vez um acto de pedofilia. Mais uma vez, a vítima consegue ultrapassar este trauma e torna-se mais forte, apesar disso. Este tipo de escrita em que se aborda questões complexas tais como violação, diferenças sociais e religiosas é algo que caracteriza esta coleção, e é sempre feita de forma a não ferir suscetibilidades. 

Os personagens originais continuam presentes, em várias contextos que permite mostrar um Arlen, pós-transformação, mais humano e que se esforça para se reintegrar na sociedade. As interações de Arlen com Rojer são deliciosas e demonstram como a alegria do Jogral consegue ser contagiante.

Somos mais uma vez postos frente-a-frente com o ego humano, principalmente naqueles que têm poder. Mesmo ameaçados por forças externas, com capacidade de destruírem toda a população, os chefes da sociedade continuam mais interessados em manter o status quo, e ganhar influência sobre os outros líderes, com muito pouca consideração sobre a população sob a sua responsabilidade.


terça-feira, 13 de março de 2018

Príncipe dos Espinhos

Titulo original: Prince of Thorns
Autor: Mark Lawrence
Editora: TopSeller
Sinopse:Finalista do prémio Goodreads para Melhor Livro Fantástico Com apenas 9 anos, numa emboscada planeada pelo inimigo para erradicar a descendência real, o príncipe Jorg Ancrath é atirado para dentro de um espinheiro, onde fica preso, com espinhos cravados na sua carne, a ver, impotente, a mãe e o irmão mais novo a serem brutalmente assassinados.
De alma destruída, sedento de sangue e de vingança, Jorg foge da sua vida luxuosa e junta-se a um bando de criminosos e mercenários, a quem passa a chamar de irmãos. Na sua mente há apenas um pensamento, matar o Conde de Renar, o responsável pelas mortes da mãe e do irmão, pelas suas cicatrizes e pela sua alma vazia.
Ao longo de quatro anos, Jorg cresce no seio de batalhas sangrentas, amadurece em guerras impiedosas, torna-se um guerreiro cruel e vai ganhando o respeito dos seus irmãos até que se torna o seu líder. Agora, um reencontro vai levá-lo de volta ao castelo onde cresceu e ao pai que abandonou. O que vai encontrar não é o mesmo sítio idílico de que se lembra, mas o príncipe que agora retorna também não é mais a inocente criança de outrora, é o Príncipe dos Espinhos.
Finalista do prémio Goodreads para Melhor Livro Fantástico e considerado por Peter V. Brett, autor bestseller do New York Times, como a melhor leitura dos últimos anos.

Crítica: Quando li pela primeira vez este livro, estava em busca de algo diferente. Os livros de fantasia começavam a parecerem-se todos uns com os outros, fazendo com que o enredo fosse fácil de perceber a grande maioria das vezes. Alguém me recomendou um novo "ramo" da fantasia chamado o GrimDark Fantasy, e fiquei completamente agarrado.
Isto não é um conto de fantasia como os outros, e é algo que faz o leitor questionar durante muito tempo as escolhas da personagem principal. 
O cenário é uma Europa pós-apocalíptica, que foi levada de volta à Era das Trevas com alguns resquícios da época moderna. Esta Europa está dividida em vários reinos, todos em constante guerra para poderem chegar a Imperador.
O personagem principal é Jorg, e é-nos apresentado com 13 anos, apesar de não aparentar isso. Não é um herói, é alguém determinado a conseguir aquilo que quer, independentemente de tudo. Está disposto a matar, roubar e violar, sem qualquer tipo de remorso para conseguir aquilo que quer.
O príncipe dos espinhos dá-nos a oportunidade de ver na primeira pessoa aquilo que alguém sem misericórdia está disposto a fazer para atingir os seus objectivos.
Admito que o primeiro capítulo foi o mais complicado de "engolir", mas a partir do momento em que nos apercebemos que não estamos a ver o mundo pelos olhos de alguém que é "bom", toda a leitura passa a ser muito mais fluida. Não acho que seja possível parar de ler este livro sem se chegar ao final.
O livro está carregado de ação, intriga, traição e crimes horrendos. As personagens são muito bem desenvolvidas, com personalidades que enchem as páginas dos livros e em que todos podem ser aliados ou inimigos a determinada altura do livro.

Recomendação: Recomendo o livro a quem não gosta de fantasia. Aos que gostam de fantasia, este é um livro muito diferente daquilo que estamos habituados neste universo, acredito que não seja a escolha para muitos, mas é um livro muito bom, dentro de uma trilogia muito boa.

segunda-feira, 12 de março de 2018

Saga Mistborn - Nascido das Brumas "O Império Final"

Titulo original: Mistborn : The Final Empire
Autor: Brandon Sanderson
Editora:Saída de Emergência, junho de 2014
Sinopse: Num mundo onde as cinzas caem do céu e as brumas dominam a noite, o povo dos Skaa vive escravizado e na absoluta miséria. Durante mais de mil anos, o Senhor Soberano governou com um poder divino inquestionável e pela força do terror. Mas quando a esperança parecia perdida, um sobrevivente de nome Kelsier escapa do mais terrível cativeiro graças à estranha magia dos metais - a Alomancia - que o transforma num "nascido nas brumas", alguém capaz de invocar o poder de todos os metais. Kelsier foi outrora um famoso ladrão e um líder carismático no submundo. A experiência agonizante que atravessou tornou-o obcecado em derrubar o Senhor Soberano com um plano audacioso. Após reunir um grupo de elite, é então que descobre Vin, uma órfã skaa com talento para a magia dos metais e que vive nas ruas. Perante os incríveis poderes latentes de Vin, Kelsier começa a acreditar que talvez consiga cumprir os seus sonhos de transformar para sempre o Império Final…

Crítica: O Brandon Sanderson é sem dúvida um dos melhores escritores de fantasia que tive o prazer de ler. A sua capacidade de fazer um enredo forte com reviravoltas inesperadas e guiar o leitor num caminho que este pensa que é familiar, para ser surpreendido é algo de magnifico que muitos aspiram e poucos conseguem fazer.

 Relativamente ao livro, tenho de abordar o mundo construido antes de qualquer outra coisa. Este mundo é um mundo escuro e sombrio, em que as cinzas cobrem o céu, fazendo com que não exista nada de verde e ou colorido. Durante a noite, as névoas saem e tornam a noite ainda mais aterradora para a grande maioria das pessoas. A sociedade deste mundo é praticamente igual, sendo que a grande maioria faz parte duma "raça" chamada Skaa subjugada pela nobreza. Tanto nobres como skaas são policiados por uma fação religiosa criada pelo Senhor Soberano, com os seus vis Inquisidores. Alguns membros destas fações têm acesso a Alomancia, um poder que permite, aquando a ingestão de metais ter habilidades extraordinárias.

A narrativa do livro é feita de forma a manter-nos colados as suas páginas, havendo momentos em que a ação abranda, mas nunca se torna desinteressante. Gosto muito do facto dos personagens deste livro serem completamente diferentes uns dos outros, cada um servindo o seu propósito. Os personagens principais têm personalidades fortes, complexas e cheias de profundidade, fazendo com que nos agarremos a eles desde o principio do livro.

Os temas que são abordados nos livros têm paralelismos claros entre o mundo real e o mundo de Mistborn, em que nos podemos ver ser postas em contraste as ideologias de  vários lados, desde variedade religiosa (ou falta dela) até diferenças sociais.

Recomendação:Sem dúvida, uma muito boa opção para quem se quer iniciar no mundo da fantasia. Quem está habituado a ler fantasia, este é um livro que é requerimento de qualquer leitor do fantástico.